segunda-feira, 8 de janeiro de 2018

Consumo e a Economia Brasileira

Texto: Amanda Seixas Diniz e Sinézio Fernandes Maia

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Após 15 trimestres de queda, a economia brasileira registrou os primeiros sinais de uma possível recuperação, com o PIB crescendo a 0,6% (acumulado) até setembro. Segundo o Jornal Valor Econômico, com exceção do primeiro trimestre, o qual foi impulsionado pela agricultura, o Consumo das Famílias foi o responsável pelo crescimento de 0,7% e 0,1% no segundo e terceiro trimestre respectivamente. A Formação Bruta de Capital Fixo, representando o Investimento da economia, voltou a crescer, apresentando uma alta de 1,6% em relação ao trimestre anterior. Portanto, percebe-se uma retomada da atividade econômica quando analisados os componentes da demanda agregada brasileira.*
Created with Highstock 6.0.4R$milhõesComponentes da Demanda Agregada - R$milhões (1997T1-2017T3)Componentes da Demanda Agregada - R$milhões (1997T1-2017T3)Fonte: Sistema Gerenciador de Séries Temporais (SGS - Banco Central)PIBConsumo das FamíliasGastos GovernamentaisInvestimento(FBCF)200020052010201502M4M6M8M
Na década de 1930, influenciado pela crise na Grã-Bretanha, bem como, pela Grande Depressão vivenciada pela economia dos EUA, o economista britânico John Maynard Keynes propôs em seu livro A Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda um modelo de determinação da renda e do emprego sob a ótica da demanda agregada. De acordo com Ackley (1978), Keynes considerava que os acontecimentos econômicos da época estavam relacionados a uma falha na teoria ortodoxa clássica, a qual tinha como base a oferta agregada e o equilíbrio orçamentário do governo.

O modelo keynesiano, demonstrado rigorosamente por Simonsen (1983), está fundamentado na ideia de que, para que o produto (Y) esteja em equilíbro, este deve ser igual à demanda agregada (DA). Admitindo que se trata de uma economia fechada, o produto total equivale à renda nacional e, a demanda agregada é composta pelo Consumo das Famílias (C), Investimento (I) - realizado pelas firmas em máquinas e equipamentos, e, Gastos do Governo (G); de modo que:

Y=DA
Y=C+I+G

A identidade pode ser reescrita, levando em consideração que a renda nacional é a soma dos pagamentos às famílias em troca dos fatores de produção ofertadas por elas, sendo esta consumida (C), poupada (S) ou destinada ao pagamento de impostos (T).

Y=C+S+T

Segundo Branson e Litvack (1978), o modelo keynesiano admite que, no equilíbrio, a parcela da renda que não é consumida pelas famílias (S+T) é igual ao que os outros dois setores da economia desejam comprar - firmas e governo (I+G). Um desequilíbrio entre (S+T) e (I+G) causariam mudanças no nível da renda, até que esta voltasse ao nível de equilíbrio. Para entender como se dá a determinação da renda de equilíbrio, se faz necessário entender o comportamento de cada um dos componentes da demanda agregada - C, I, G.

O investimento é uma das variáveis-chaves do modelo keynesiano. Segundo Keynes (1936), o nível de investimento de uma economia seria determinado independentemente do nível de renda, dependendo apenas das expectativas das firmas quanto ao comportamento da economia, bem como, da taxa de juros. Entretanto, o modelo desconsidera a taxa de juros, sendo, portanto, o investimento um componente autonômo. Os gastos governamentais também são considerados como um componente autônomo da demanda, por indepederem do nível de renda, sendo determinados pelos formuladores de política econômica.

O consumo costuma apresentar a maior participação na renda de uma economia. Pode-se observar na figura 1 um comportamento semelhante do PIB e do Consumo das Famílias, sendo seus valores muito próximos. Isto pode ser explicado pelo modelo keynesiano, o qual propõe que o consumo seja uma função estável da renda disponível (FROYEN, 2006). A renda disponível corresponde ao que resta da renda total após o pagamento de impostos (YD=Y-T). Vale ressaltar que Keynes não excluía a possibilidade das demais variáveis afetarem o nível de renda, entretanto, o autor considerava que a renda era um fator dominante na determinação do consumo. Tal relação entre consumo e renda ficou conhecida como a Função Consumo, sendo:

C=a+bYD

O parâmetro (a) correponde ao consumo que se dá de forma independente à renda, sendo determinado por variáveis não inclusas no modelo (por exemplo, riqueza, herança), logo, este é maior do que zero. O parâmetro (b) capta o efeito marginal, ou seja, indica quanto o consumo aumentará dado um aumento da renda disponível, sendo denominado como propensão marginal a consumir (PMgC), estando o seu valor entre 0 e 1, de modo que um aumento na renda não cause um aumento mais que proporcional no consumo.
Considere o gráfico a seguir:


No eixo vertical, tem-se os componentes da demanda agregada; enquanto no eixo horizontal, encontra-se a renda. A reta que representa a Função Consumo, quando intercepta o eixo vertical, indica que, quando a renda for zero, o consumo será igual ao parâmetro a. Conforme a renda aumenta, o consumo aumenta de acordo com o parâmetro b. A reta que encontra-se acima da reta da Função Consumo, representa a soma entre o Consumo, o Investimento e os Gastos Governamentais, sendo, portanto, a Demanda Agregada. Percebe-se que a inclinação das duas retas é a mesma, sendo a distância entre elas igual a (I+G). A linha de 45º indica a igualdade entre a renda e a demanda agregada. Quando a reta da Demanda Agregada intercepta a linha de 45º, têm-se a renda de equilíbrio.

Para o Brasil, foi estimada uma Função Consumo como exercício empírico, mas fugindo da precisão exigida nas hipóteses das Contas Nacionais. Utilizou-se como proxies das variáveis o Produto Interno Bruto a Preços de Mercado (Renda Nacional), o Consumo das Famílias, o Consumo da Administração Pública, a Formação Bruta de Capital Fixo (disponibilizadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), bem como, a Arrecadação das Receitas Federais (disponível no banco de dados do Ipeadata). O resultado econométrico preliminar foi o seguinte:

C=-23103,6747+0,6283YD

Por meio da estimação, foi possível identificar uma propensão marginal a consumir de 0,63, o que significa que, dado um aumento na renda disponível de R$1,00, as famílias irão consumir R$0,63, sendo os R$0,37 poupados. Além disso, foi encontrada uma renda de equilíbrio de R$6.376.494,00milhões, sendo inferior à registrada atualmente - R$6.488.753,00.**

O modelo keynesiano foi uma grande contribuição para a Macroeconomia ao desenvolver uma teoria sob a ótica da demanda para a determinação da renda, bem como, ao influenciar o desenvolvimento de outras teorias econômicas (Modelo IS-LM, por exemplo). O modelo obteve sucesso ao encontrar a causa da Depressão de 1930 - insuficiência da demanda agregada. Entretanto, o modelo sofreu críticas por propor o aumento dos gastos governamentais a fim de gerar crescimento econômico desconsiderando o equilíbrio orçamentário governamental proposto pelos clássicos, entrando em declínio após não ser verificado crescimento por meio dos gastos. Os monetaristas, ao afirmarem que a renda nominal e os preços são funções da oferta monetária, contrariam os keynesianos, os quais consideravam que a demanda agregada determinava o nível de renda. Friedman constatou empiricamente que a política fiscal não tem efeito direto na renda, estando condicionada às ações da política monetária (LOPREATO, 2013). Com isso, de acordo com Modenesi (2005), a partir da década de 1970, o modelo monetarista passou a embasar a condução da política monetária em diversos países.


"Economia brasileira cresce 0,1% no terceiro trimestre, aponta IBGE" - Valor Econômico
**  Vale ressaltar que a estimação foi apenas um exercício empírico, logo, as propriedades estatísticas desejáveis do modelo econométrico não foram completamente verificadas, comprometendo a precisão dos dados.


Referências
ACKLEY, Gardner. Teoria Macroeconômica. 2. ed. São Paulo: Pioneira, 1978.
BRANSON, William H.; LITVACK, James M.. Macroeconomia. São Paulo: Harper & Row do Brasil, 1978.
FROYEN, Richard T.. Macroeconomia. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2008.
LOPREATO, Francisco Luiz C.. Milton Friedman e a Efetividade da Política Fiscal. Revista Economia Contemporânea, Rio de Janeiro, v. 17, n. 2, p.201-220, ago. 2013.
MODENESI, André de Melo. Regimes Monetários: Teoria e a experiência do real. Barueri: Manole, 2005.
SIMONSEN, Mário Henrique. Dinâmica Macroeconômica. São Paulo: Mcgraw-Hill do Brasil, 1983.


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