terça-feira, 22 de agosto de 2017

Com o objetivo de construir uma sociedade mais educada e consciente financeiramente, a Sala de Ações fez uso de sua prerrogativa de Projeto de Extensão, e promoveu a Semana de Educação Financeira. Entre os dias 7 e 10 de agosto, foram realizados atendimentos financeiros personalizados, ministrados minicursos e palestras por convidados especiais.
Entre eles, a Professora Maria Conceição Sampaio[1], especialista em setor público e pesquisadora B1 pela Capes. O título de sua palestra foi “Previdência Social no Brasil – Fatos e Mitos”. A motivação para realizar essa exposição foi, segundo a Professora, devido à campanha de desinformação e de afirmações que circulam pela mídia que não se “sustentam a uma reflexão lógica” – disse Maria Conceição.

A apresentação foi dividida em duas partes. A primeira corresponde aos Fatos, divididos em dois tópicos principais: i) Déficit previdenciário e do governo central; e, ii) Fatores que determinam gastos excessivos.
Não só a elevada proporção de gastos previdenciários preocupa, como também a velocidade com que crescem. Segundo a Professora, no ritmo em que estão, os gastos previdenciários poderão representar em torno de 23% do PIB, contando com os dois regimes previdenciários (RPPS e RGPS). Isso, evidentemente, representará contingenciamento de outras rubricas, como saúde, transporte, investimentos e educação.
O país é um ponto fora da curva quando se trata de assuntos previdenciários. É isso que é possível observar no primeiro gráfico de sua apresentação. O Brasil é um país jovem, que gasta com previdência em proporção do PIB, o mesmo que gastam países com maior proporção de idosos, ricos e com amplo estado de bem-estar social. Entre esses países estão, por exemplo, a Suécia e a Alemanha. Nas palavras da Professora: ”Em 2015, o Brasil gastou com aposentadorias quase o mesmo percentual do PIB que os países da OCDE. Porém, a proporção de pessoas com mais de 65 nestes países é mais que o dobro da do Brasil: no Brasil, 8,0 da população tem mais de 65 anos de idade; na OCDE esse percentual eleva-se à 16,2%”.

Para Conceição, esse fato decorre em grande medida do incentivo ao benefício precoce que a aposentadoria por tempo de contribuição proporciona. Segundo o Boletim Estatístico da Previdência de 2013, a idade média de aposentadoria por tempo de contribuição, é oito anos a menos do que aposentadoria por idade no caso dos homens e sete para as mulheres. Essa diferença se acentua quando se observa apenas o setor urbano. Esse fato é tão importante, que ainda que as aposentadorias por tempo de contribuição representarem apenas 25% das aposentadorias pagas, consome mais de 45% dos gastos do governo.
Dado o tipo de regime previdenciário adotado no Brasil, a sustentabilidade previdência social passa a depender de modo crítico das mudanças demográficas da população. Em uma geração, o país haveria completado sua transição de um país com estrutura demográfica jovem, para uma estrutura demográfica onde haverá maior população inativa, do que em idade para trabalhar.
Não só isso aceleram os gastos previdenciários, segundo Conceição “o salário mínimo indexa mais de 60% dos benefícios e mais de 40% dos gastos com seguridade social no Brasil de 2000 até 2014”. O crescimento dos gastos previdenciários decorrentes apenas do número de beneficiários e do salário mínimo real foi da ordem de 2,1% ao ano. Em um país com tamanha desigualdade de renda, é natural que o salário mínimo cresça. Entretanto como afirma a professora, o salário mínimo tem impacto limitado na redução da pobreza, mas tem forte impacto nos gastos previdenciários.
Quando tratou dos mitos, Conceição tratou, por exemplo, do argumento da inexistência de déficit da previdência. Segundo ela “excluir os gastos previdenciários do RPPS se trata de um não argumento. Quem pagará a conta? Transferi-lo para outra conta não mudará o valor do déficit do tesouro. Ademais, não há razão para adicionar gastos da DRU, uma vez que impostos disfarçados de contribuição social, como CSLL, COFINS, e parte do PIS/PASEP são não partilháveis com esferas inferiores de governos. A emenda constitucional que desvincula parte do orçamento da Seguridade, são usadas para custear parte do orçamento fiscal. “a previdência deve ser atuarialmente solvente” – afirma.
Outro argumento desmistificado é de que os contribuintes trabalhariam até “morrer” em algumas regiões, visto que a expectativa de vida é de 65 anos em algumas delas. Isso não se sustenta porque para fins previdenciários, deve-se observar a expectativa de sobrevida e não de vida. A alta mortalidade infantil e a violência na adolescência são, ainda, estatisticamente relevantes. O que reduz o número médio de anos de vida da população. Quando se observam as pessoas que chegam aos 65 anos, não há muita diferença entre as regiões do país. Essas pessoas vivem em média até os 83,5 anos de idade. Ou seja, quase 20 anos a mais do que a expectativa de vida.


Por fim, Conceição mostra que o desenho atual da previdência social no Brasil concentra renda. Aposentadorias e pensões para servidores públicos precoces por contribuição e acima do teto do setor privado estão entre os fatores que concentram renda no país. Dado que a reforma visa alterar idade mínima de aposentadoria, ela não afeta as camadas mais pobres da população. Isso ocorre porque esses contribuintes já se aposentam por idade mínima. Portanto, retirar os privilégios da aposentadoria por tempo de contribuição é também reduzir a distância as aposentadorias do setor público e do privado.
A Professora Conceição parabenizou a iniciativa da Sala de Ações e o interesse de todos os presentes pelo tema. Segundo ela, são os jovens que deveriam ser os mais interessados pela discussão acerca da reforma da previdência, pois são os que pagarão a conta. Os que estão em idade de aposentadoria, deveriam se preocupar apenas se receberão os benefícios – fazendo um paralelo com a situação do Estado do Rio de Janeiro.


A Sala de Ações agradece à Professora Conceição por aceitar o convite, e proferir a brilhante palestra. Para os interessados na apresentação, segue link que pode ser utilizado para download: Clique aqui!





[1] A Professora Conceição estudou na Universidade Federal da Paraíba (1973), graduação em Sciences Economiques - Université Catholique de Louvain (1975), mestrado em Sciences Economiques - Université Catholique de Louvain (1977) e doutorado em Sciences Economiques - Université Libre de Bruxelles (1984). Atualmente é pesquisadora 1b do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, professora titular da Universidade Federal de Paraíba, professora titular aposentada da Universidade de Brasília. Tem experiência na área de Economia, com ênfase em Economia do Setor Publico, atuando principalmente nos seguintes temas: gastos públicos, medidas não paramétricas de eficiência, fronteiras estocásticas. Fonte: http://lattes.cnpq.br/8443685733045336

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